Não fui eu que escreveu o título, no entanto eu e omundo, acredito, concordamos com ele. Sáo de maravilhas
assim que precisamos(Palavras de Jeremias Fotógrafo).
O último discurso
de “O Grande
Ditador”
Sinto muito, mas não pretendo ser um
imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem
quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio...
negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos
outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo
– não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos
outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode
prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da
liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do
ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina,
que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos
fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em
demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de
humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos
muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade
do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste
mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões
de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que
tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo:
“Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o
produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do
progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o
poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem
homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses
brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas
vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos!
Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação
regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão!
Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas
almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem
amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão!
Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito
que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de
homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o
poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o
poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa.
Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós.
Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de
trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que
desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que
prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o
povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar
fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um
mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.
Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te
encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se
dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo –
um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da
brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa
a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah!
Ergue os olhos!
De Carlos Drummond de Andrade
"Canto
ao Homem do Povo - Charles Chaplin". Clique
aqui.
Leia ainda um
ensaio
poético sobre Charles Chaplin.
Clique
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Confira a
biografia
de Charles Chaplin.
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aqui.
Recomendamos enfaticamente:
Tributo ao Gênio: Charles Spencer Chaplin
"Aos que me podem
ouvir eu digo: `Não desespereis!' A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do
que o produto da cobiça em agonia, da amargura dos homens que temem o avanço
humano..."
Charles Chaplin
Muito raramente a palavra
"gênio" pode ser empregada com tanta propriedade quanto ao nos referirmos a
Charles Chaplin, comparado por muitos a William Shakespeare. Sim, se o renascimento
produziu gênios do quilate de Shakespeare, Bacon, Da Vinci, Maquiavel, a revolução
industrial produziu gênios como Freud, Marx, Chaplin...
Antonio Gramsci recomenda comparar o
desenvolvimento interno de uma dada teoria filosófica à estruturação interna de uma
religião como o catolicismo, por exemplo. Assim como há a alta teologia e o catecismo -
ambos com o mesmo eixo temático, a diferença residindo apenas no nível em que a mesma
mensagem é transmitida a públicos distintos - sugeria o filósofo italiano o surgimento
de um "catecismo marxista", a fim de contribuir para acelerar o surgimento da
consciência de classe para si do proletariado - evidentemente que tanto a mais elevada
teoria marxista do conhecimento e o catecismo proposto guardando uma grande coesão
interna.
Seguindo esta linha de raciocínio,
podemos pensar em freqüências vibratórias. Muitos de nós podemos estar vibrando na
mesma sintonia em que vibrava Chaplin, embora, claro, dificilmente com a mesma
genialidade. Àqueles que conhecem e se importam com esta vibração, que poderíamos
chamar inclusive de Alto Humanismo, recomendo observar de perto a história de vida do
grande ator, diretor e produtor cinematográfico.
Nascido na Inglaterra nos últimos
lustros do século XIX, a virada do século o encontra menino ainda, paupérrimo, envolto
em severos problemas econômicos e domésticos. Filho de artistas fracassados, viu no
teatro seu único campo de atuação humana possível. Começava a demonstrar seu enorme
talento quando o cinema se impôs como a "sétima arte" atraindo-o
irresistivelmente para Hollywood. Ao longo de toda a sua vida, protagonizou, dirigiu,
produziu, escreveu e musicou mais de setenta filmes, a maioria dos quais mudos, mesmo
quando o som ia se tornando uma obrigatoriedade dentro da "sétima arte".
Chaplin não queria que a fascinante figura do "Tramp" * falasse. Quando o
cinema falado pressiona-o a mais não poder, o "Tramp" abre a boca no mais
sublime dos discursos humanistas jamais ouvidos. Dele selecionei pequeno trecho para
epigrafar estas linhas. O famoso "Último Discurso" do filme O Grande Ditador,
desmantela todas as absurdas teses do nazi-fascismo, reclamando ao humano o lugar que
tanto merece.
Impossível a quem quer que seja falar
em tantas coisas extraordinárias (compreendendo aqui a "fala" como discurso
corpóreo também) sem ser pelos mais variados motivos vítima de intolerâncias e
incompreensões. Por exemplo, Chaplin jamais se filiou a qualquer partido político, mas
sua crítica mordaz a todas as formas de injustiça ou de brutalidade contra o humano -
com particular ênfase à dimensão social - coloca-o claramente no campo da esquerda; seu
perfeccionismo levava-o a passar dias e noites a fio envolvido no acabamento final de
determinados detalhes de seus filmes; como era feito principalmente de sentimentos e
somente circunstancialmente de razão **, apaixona-se desbragadamente por Hetty Moyra
Kelly, então com dezesseis anos, de quem a vida o afasta cruelmente, sem que ele chegue a
sequer tocá-la - e ele passa o resto de seus dias a buscá-la em todas as mulheres com
quem se relaciona.
Chaplin atacava de maneira mordaz e
genial toda e qualquer forma de autoritarismo, agradando a toda a gente que sempre acha
sensacional "chutar o traseiro do guarda", levando contudo um certo desconforto
aos representantes da lei e da ordem... De todo o modo, esta tem sido a tônica dos
humanistas do século XX: viver entre as paixões políticas e a busca incansável daquela
pessoa que é o complemento humano único e obrigatório de cada um que, quando Deus nos
criou, fez com que fôssemos radicalmente dependentes de outrem na esfera mais íntima de
nossa constituição física e psíquica.
Quando percebemos quem foi e o que
pensou Charles Chaplin, percebemos como é brilhante aquele que nos leva ao humor pela dor
(ou vice-versa, o que é quase a mesma coisa). Poucos conseguiram fazer planger as cordas
da nossa sensibilidade com tal grau de maestria! Talvez por isso mesmo tenha sido expulso
dos EUA, a "grande democracia"...
Além da básica filmografia
especificamente de Chaplin, dentre os quais destacam-se O Garoto, Tempos
Modernos, O Grande Ditador, e Luzes da Ribalta (este último verdadeiro
"testamento poético" do grande gênio); há que se assistir também a Chaplin
, do diretor britânico Richard Attenborough, referência obrigatória. Quando a
mesquinhez do cotidiano ameaçar incomodar-nos, façamos como os surrealistas,
refugiemo-nos no sonho, na fantasia, no delírio até - que muitas vezes encontramos mais
traços de realidade no chamado delírio que nas vãs ilusões do cotidiano.
De Carlos Drummond de Andrade
"Canto
ao Homem do Povo - Charles Chaplin". Clique
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Confira a
biografia
de Charles Chaplin.
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Leia "O
Último Discurso", proferido por Charles Chaplin no filme "O
Grande Ditador".
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Recomendamos enfaticamente:
Chaplin - de Richard Attenborough - Biografia cinematográfica definitiva! |
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